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Crack-Up

Artista: Fleet Foxes
Data de lançamento: 16 de junho de 2017


 
        Após 6 anos desde do último álbum, Helplessness Blues, Fleet Foxes decidem voltar com o seu terceiro álbum de estúdio, Crack-Up, trazendo com ele uma onda de novos sons, apresentando uma consistência e progressividade enormes, não só a nível de composição, como a nível lírico, que não existia em Helplessness Blues, nem em nenhum álbum anterior. Em Crack-Up, assistimos a uns Fleet Foxes mais experimentais, que decidiram fugir à sua zona de conforto, no entanto, sem nunca se esquecerem das suas origens no Indie-Folk, sem se esquecerem DOS Fleet Foxes a que todos estavam habituados.
          Confesso que, não é um álbum fácil de ouvir, e que, da primeira vez que ouvi, foram preciso horas até o conseguir interiorizar e tentar perceber o que raio é que os Fleet Foxes nos queriam trazer com isto. E, depois de várias horas repetidas a ouvir álbum, apercebi-me que o Crack-Up é tudo, menos aleatório. Desde de toda a organização da track-list, ao nome das músicas e a todos os conceitos retratados neste álbum. Tais como, em Cassius, em que Pecknold admite ser sobre a morte de Alton Sterling, a qual fez surgir vários protestos em que este esteve presente; ou em Naiads, Cassadies, que, como em Kept Woman, são feitas referências ao papel da mulher no mundo, criticando a forma de como esta é vista pela sociedade ("Fire can't doubt its heat/ Water can't doubt its power/ You're not a drift/ You're not a gift/ You know you're not a flower"). No entanto, em Kept Woman é nos apresentada uma melodia, inicialmente, leve e simples, mas que parece soar sempre distante, tal como a personagem que é referida ("Anna, you're lost in a shadow there"), o que me leva a associar à capa do álbum e ao oceano, que muito pode estar ligado a distância e saudade. E, por esta ordem, chegamos a Third Of May/ Ōdaigahara, provavelmente, uma das músicas mais marcantes e experimentais em toda a carreira dos Fleet Foxes. Toda a música é um crescendo, começando com um forte ritmo de guitarras e uma boa batida, que aumenta e se torna mais energética e consistente ao longo da música, mudando completamente no último verso, para uma textura diferente e que faz lembrar exactamente música oriental, neste caso Japonesa, o que faz todo o sentido, por ser Ōdaigahara uma montanha no Japão e por ter sido o sítio onde terminou a tour de Helplessness Blues. Já a parte de "Third Of May", segundo Robin, é uma referência ao aniversário do guitarrista e (em conjunto com Pecknold) formador da banda, Skyler Skjelset, estando esta relacionada com a relação que Pecknold tinha com Skyler ( "And as the sky[e] would petal white, old innocent lies came to mind"), alastrando-se em If You Need To, Keep Time On Me.
         Como um todo, sinto o Crack-Up como uma viagem, cheia de versatilidade, mas que não nos deixa de fazer sentir em casa. E em que, comparativamente com Helplessness Blues, os Fleet Foxes mostram estar mais libertos e maduros, a todos os níveis. Por todas estas razões, vejo o Crack-Up como um dos melhores álbuns Indie-Folk da década.


Músicas recomendadas:
- Third Of May/ Ōdaigahara 

- Kept Woman
- Cassius


Nota: 4.6/5

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