Banda: Arcade Fire
Data de lançamento: 28 de julho de 2017
Quando Reflektor saiu para a luz do dia, os Arcade Fire nunca mais foram os mesmos. O disco duplo alargou os horizontes do indie rock da banda, incorporando música eletrónica, disco, e também dance-rock de uma maneira, que mesmo para uma banda tão grandiosa como os canadianos de Montreal, surpreendeu. As opiniões foram divergentes, como seria de esperar, mas no final de contas, o efeito Reflektor marcou toda a gente que o ouviu, ou experienciou, digamos assim, já que o álbum é um marco arrojado na discografia da banda não só em termos musicais mas também em termos estéticos: a promoção do álbum teve como base um símbolo, que rapidamente se propagou através da street art; o vídeo da title track, que logo moldou o visual do álbum, apresenta-nos também o Disco Ball Man, o homem feito de espelhos que se revela na fantástica Reflektor Tour.
Sim, Reflektor não é o álbum mais consistente mas todo o seu conceito é coeso e bem pensado, elevando a banda e o seu produto musical. Agora olhamos para Everything Now e tudo o que está por trás deste projeto parece mais desleixado; claro que depois de Reflektor, qualquer álbum pareceria mais contido, menos dinâmico, mas o novo álbum dos Arcade Fire falha logo em termos de promoção. São lançados 4 singles (que por acaso são das melhores músicas do álbum) antes do seu lançamento, e tendo em conta que o álbum tem 3 reprises (sim, 3), pouco resta de novo quando chega dia 28.
Há também um novo símbolo: a Everything Now Corp. que assume o controlo do site da banda e nos enche o browser com pop-ups. Toda esta ideia-base de Everything Now é interessante e, sobretudo, importante nos dias de hoje, em que temos everything now. No entanto, a maneira como os Arcade Fire pegam nesta problemática e a tornam em música já não é tão interessante; considerando o crescente surgimento deste assunto em outros álbuns (ver: Pure Comedy) e também no mundo das séries e filmes (ver: Black Mirror), a banda tem o trabalho dificultado em destacar Everything Now entre outros nomes.
Ironicamente, a Everything Now Corp. faz este trabalho de forma mais eficaz do que o próprio álbum com a sua página do Facebook e o seu site; Everything Now, por outro lado, fica preso em Infinite Content, com Win Butler a cantar durante quase 2 minutos de um rock que faz lembrar Month of May dos bons tempos de The Suburbs, repetindo "infinite content, we're infinitely content". Butler provavelmente pensou que o seu trocadilho era genial e que merecia dois minutos de repetição. Ainda mais: a canção que sucede Infinite Content não é nada mais do que um reprise desta, agora numa versão mais folk. A letra? Exatamente a mesma. Everything Now vive e morre com a repetição: morre aqui mesmo nas Infinite Content, que deixa por explorar um território lírico vasto, por cometer o erro de depender num trocadilho cringy; fraqueja também em Chemistry e em Good God Damn devido de novo à constante repetição de frases (Chemistry é até um atentado à discografia da banda, quando se ouve incessantemente "You and me, we've got chemistry", com os Arcade Fire a atingirem níveis de cheesiness nunca antes vistos).
Contudo, Everything Now também rejuvenesce com a repetição do refrão na contagiosa title track, que apesar do seu piano riff que se assemelha muito (demasiado?) a Dancing Queen dos ABBA, é uma evolução positiva em relação a Reflektor, uma música disco que, em termos líricos, é tudo o que Infinite Content gostaria de ser. Creature Comfort e We Don't Deserve Love são também pérolas no meio de tantas ideias inacabadas, músicas verdadeiras que transbordam de verdades sentidas como os Arcade Fire sempre nos habituaram. Quando Butler canta "she told me she came so close/filled up the bathtub and put on our first record", referindo-se ao suícidio na explosiva Creature Comfort ou "if you can't see the forest for the trees/just burn it all down and bring the ashes to me" em We Don't Deserve Love, conseguimos sentir que soa mais verdadeiro, menos forçado: sentimos que os Arcade Fire de sempre estão lá, no meio de músicas não desenvolvidas. Esta última e o reprise da title track que a segue fluem como se fossem uma única; são sem dúvida o melhor momento do álbum. Porém, quando em Everything Now (Continued) tudo começa a fazer sentido e as coisas começam a ganhar profundidade, a música para subitamente, deixando tantas pontas soltas.
Os Arcade Fire habituaram-nos mal (ou demasiado bem) com álbuns tão grandiosos e completos: agora que queríamos everything now recebemos um álbum inacabado, com apenas um vislumbre da banda de que tanto gostávamos.
Nota: 2.7/5
Músicas recomendadas:
- We Don't Deserve Love/Everything Now (Continued)
- Creature Comfort
- Everything Now
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