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Clássicos do Trip-Hop: Maxinquaye

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Artista: Tricky                                                                                                                                         
Data de lançamento: 20 de fevereiro de 1995

    Então já tivemos Portishead, vamos falar de Massive Attack depois e... é suposto falarmos de mais alguém? Sim, Tricky é o artista de quem devíamos falar tanto quanto falamos das outras duas bandas de trip-hop mas que é muitas vezes esquecido. Mas quem é Tricky? A verdade é que gostamos mais dele do que pensamos: fez parte dos Massive Attack até deixá-los depois de Protection para lançar o seu próprio álbum Maxinquaye. Tricky estava farto do seu papel limitado na banda de Bristol e, bem, para compensar, fez um álbum bastante variado.
    Classificar Maxinquaye como trip-hop é subvalorizar o trabalho de Tricky: o álbum percorre o hip hop, a música experimental, o rock e post-rock e a eletrónica. Maxinquaye nunca se contém e é isso que o faz um álbum excecional. No entanto, o álbum estaria incompleto sem a ajuda vocal de Martina Topley-Bird, uma das razões que levaram Tricky a sair dos Massive Attack. Martina acompanha-o ao longo da maior parte do álbum conferindo um toque mais suave e provocador, dando vida às suas letras obscuras sobre, principalmente, a cultura britânica do consumo de drogas. Com a ajuda de samples e do ambiente sinistro que se estende ao longo de Maxinquaye, Tricky e Topley-Bird criam momentos que fazem Dummy parecer um álbum feliz. Em Strugglin', talvez o momento mais obscuro do álbum, Tricky diz: "Brainwashed with the hallucinagenics in my system, I cock the trigger/Many switch in, switch on, switch off" ao som de uma atmosfera claustrofóbica e pelo barulho de uma pistola. Hell is Round The Corner é também outra música que referencia as drogas que fizeram parte da vida de Tricky, e aqui é ele a estrela e não Topley-Bird. Num rap subtil que encaixa perfeitamente no sample de Isaac Hayes (também usado em Glory Box, dos Portishead), Tricky descreve perfeitamente, com metáforas e a gíria de quem usa drogas, o que viu e experienciou no mundo das drogas; vemos através dos olhos dele quando diz "Let me take you down the corridors of my life/And when you walk, do you walk to your preference?"
    O álbum não é só mistério e escuridão, no entanto; momentos como Suffocated Love, um diálogo entre Tricky e Topley-Bird sobre a sua relação, ou Overcome, uma versão renovada de Karmacoma dos Massive Attack, deixam o álbum respirar um pouco no meio de tópicos tão pesados. Outras músicas conferem a dimensão experimental que destaca Maxinquaye: Pumpkin, com uma jovem Alison Goldfrapp desta vez a cantar, contém um sample de Suffer dos Smashing Pumpkins e traz a versatilidade necessária a um álbum de trip-hop; Brand New You're Retro é composta por um rap mais rápido por parte de Tricky sobre um sample de Bad de Michael Jackson e traz a energia necessária depois de algumas músicas mais calmas; e é importante também destacar Black Steel, um remake total da música Black Steel in the Hour of Chaos da banda de hip hop Public Enemy, não trip hop mas com guitarras, bateria e a voz de Martina Topley-Bird, que tornam possível fazer uma versão rock.
    Não posso dizer que Maxinquaye é melhor do que Blue Lines ou Dummy, tudo acaba por se resumir a gostos. Blue Lines é o pioneiro do trip-hop, Dummy aperfeiçoou tudo e deu-lhe um toque mais obscuro. Maxinquaye? Maxinquaye é livre, é o que quer ser e nunca se contém, é a vida de Tricky num álbum. Maxinquaye é verdadeiro.

Músicas recomendadas:
- Hell Is Round The Corner
- Overcome
- Suffocated Love

Nota: clássico/5







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