O Octopus's Garden não tem andado muito ativo mas descansem, porque temos continuado a ouvir muita música! Com tantos bons álbuns que chegaram aos nossos ouvidos foi difícil reunir apenas 15 que consideramos os melhores, mas demos o nosso melhor para distingui-los. Os álbuns que nos acompanharam ao longo do ano, que chegaram logo em janeiro ou que apenas chegaram a tempo para nos aquecerem neste inverno, estão aqui, e, mais do que melodias, transmitem emoções.
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A Crow Looked At Me |
Data de lançamento: 24 de março de 2017
Das mãos de Mount Eerie, grupo integrado apenas pelo ex-membro da já terminada banda The Microphones (Phil Elverum), desabrocha um álbum incomum a todos os níveis. Após ouvir este álbum pesquisei um pouco sobre o seu pano de fundo e apenas após isso consegui perceber a sua beleza, por isso solicito que também o façam. Mais um álbum com uma vertente poética inegável acoplada a instrumentais muito modestos e por vezes difíceis de encaixar, A Crow Looked At Me é um álbum humano, na medida em que aborda o maior medo da nossa espécie: a morte. Demonstra ao ouvinte que a morte é real sendo isto fácil de verificar ao ser ouvido. É, acima de tudo, um álbum que não deve ser apreciado tecnicamente, pois não é aí que reside a sua beleza. Deve, pelo contrário, entrar em nós sem quaisquer barreiras, e, porventura, acompanhar-nos durante algum tempo. - João
A nossa escolha:
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Brutalism |
Data de lançamento: 10 de março de 2017
O que há de tão inovador para fazer na música punk em 2017?
Provavelmente não há muito, e os Idles não fingem que estão a fazer algo
revolucionário. Apenas pegam no que sabem e fazem um álbum excelente. Letras
diretas e cruas, sem rodeios, e criticando, como Joe Talbot, cantor da banda,
tão bem sabe, impulsionadas por percussão enérgica e guitarras e baixos
agressivos. Num ano em que a verdade anda escondida, Brutalism é tudo o que
precisávamos. Afinal de contas, talvez os Idles tenham inovado. Disseram-nos a
verdade. - Henrique
A nossa escolha:
A nossa escolha:
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Common As Light and Love Are Red Valleys of Blood |
Data de lançamento: 17 de fevereiro de 2017
Este foi, sem dúvida, dos álbuns que mais adiei ouvir de 2017, tal como esta foi a review que também mais adiei escrever. Common as Light and Love are Red Valleys of Blood é um álbum pesado e extenso, e que se quer fazer sentir pesado e extenso. O que faz com que se torne numa massa densa, complexa e, por vezes, constrangedora. Talvez seja isso que o torna tão interessante e cativante, de mãos dadas com o facto de ser um dos mais pessoais e auto-reflexivos álbuns de Mark Kozelek. É um álbum inteligente que nos proporciona uma viagem de consciencialização durante 2 horas sobre o mundo actual, através de narrativas extensas e instrumentais cheios de “groove”. É um álbum difícil e que não é para todos, mas merece uma tentativa, nem que seja pela tão contagiante "I Love Portugal". - Joana
A nossa escolha:
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Everybody Works
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Data de lançamento: 10 de março de 2017
«I like the way your lipstick stains the corner of my smile» é
como Melina Duterte começa Everybody Works ao som de uma dream pop tão subtil
que ninguém diria que momentos depois o noise rock de "1 Billion Dogs" iria
invadir o palco. Ou que o "Baybee", com um toque de R&B, roubaria o papel
principal depois do solo de guitarra orgásmico de "One More Time, Please".
Ninguém diria também que este álbum foi inteiramente escrito e produzido pela
própria Jay Som, sob o estilo musical que a wikipédia classifica como bedroom
pop. No entanto, Duterte, com apenas 23 anos, expande a sua música para
horizontes impossíveis de caberem num simples quarto. Quem é Jay Som, afinal?
Talvez tenha superpoderes. Porém, quando canta «On the tip of my tongue, I
breathe again, I bury my stutter», em "(Bedhead)", imagino-a nervosa, a
tentar acalmar-se antes de entrar em palco. E finalmente me apercebo: Melina
Duterte é apenas humana e, como todos nós, trabalha. Apenas trabalha mais do
que muitos de nós. - Henrique
A nossa escolha:
A nossa escolha:
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Harmony of Difference |
Data de lançamento: 22 de setembro de 2017
Kamasi Washington, para quem viva debaixo de uma pedra, é um músico e
produtor vindo dos EUA, especializado em saxofone. Após lançar The Epic,
o seu álbum de estreia, que muitos consideram um dos responsáveis por
trazer o Jazz à tona de novo, Washington brinda-nos com Harmony of
Difference, um EP com um propósito claramente definido: salientar a
beleza na diferença e fomentar a aceitação da desigualdade, através de
um género musical também bastante distinto do atual 'mainstream'. O
essencial neste álbum reside nas grandes e complexas composições,
acompanhadas por solos de saxofone à altura dos presentes no seu álbum
antecessor.
Harmony of Difference é, então, um conjunto cuidadoso de arranjos que
primam pelo maximalismo, e que, no fim de contas, consegue contrastar
agradavelmente com a simplicidade da mensagem que se pretende transmitir. - João
A nossa escolha:
A nossa escolha:
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Hug Of Thunder |
Data de lançamento: 7 de julho de 2017
Os canadianos Broken Social Scene são tudo menos uma banda normal:
começaram por fazer música instrumental a dois, e, 15 anos depois, produzem do
melhor indie rock que anda por aí, com 19 membros. Estes 19 membros são um
aspeto importante que torna a complexidade sonora da banda algo que a destaca:
a teia de guitarras em "Protest Song" e a explosão de percussão e instrumentos de
sopro em "Vanity Pail Kids" são momentos tão raros no indie rock mas tão comuns
em Hug of Thunder. No entanto, é na title track, liderada por Leslie Feist, que
reside a peça central do álbum. A voz doce da cantora e o baixo melancólico
comovem-nos como há tanto tempo You Forgot It in People comoveu tanta gente e
tornou os Broken Social Scene na banda que hoje são. O melhor a fazer é mesmo
deixarem que este álbum vos abrace. - Henrique
A nossa escolha:
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Melodrama |
Data de lançamento: 16 de junho de 2017
Se há coisa que a Lorde faz bem é transmitir emoções. Talvez seja o seu
papel nesta vida, talvez seja por isso que o faz tão bem. A descrição da
história de amor de "Hard Feelings" ou da solidão de "Liability" são tão únicas mas
ao mesmo tempo tão universais porque todos nos vemos nelas. E, com a ajuda de
Jack Antonoff, dá vida a estas histórias que se tornam ainda mais dinâmicas e
reais, que nos fazem dançar quando estamos felizes ou chorar baba e ranho
quando nos sentimos desprezados. São poucos os álbuns que nos fazem sentir
tanto em tão pouco tempo, e, graças a isso, Lorde merece todo o reconhecimento
que tem recebido. Que ela continue com os sentimentos apurados e, well «Broadcast the boom, boom, boom, boom and make 'em all dance to it». - Henrique
A nossa escolha:
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Migration |
Data de lançamento: 13 de janeiro de 2017
Vou ser sincero: não gostei deste álbum depois de ouvir pela primeira
vez. E, muito provavelmente, não fui o único. Mas uma coisa que Simon Green,
conhecido como Bonobo, me fez perceber foi o facto de assim como os álbuns
demoram tempo a serem criados, também demoram tempo a entranhar-se no ouvinte.
Passei este ano todo com Migration como soundtrack e, mesmo assim, a cada dia,
algo de novo nascia desta coleção de músicas que se liga tão bem que mais
parece uma música só. Temas como "Second Sun" parecem inexistentes quando ouvimos
o álbum pela primeira vez mas quando damos o nosso tempo a Migration, Green
retribui-nos com a beleza em pormenores escondidos por de trás da eletrónica
downtempo que tão bem faz. Não desistam deste álbum porque ele não desiste de
vocês. - Henrique
A nossa escolha:
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Pure Comedy |
Data de lançamento: 7 de abril de 2017
Certamente um dos álbuns que mais me apelou no decorrer do ano, Pure Comedy de Father John Misty é o sucessor de um também excelente álbum, embora de cariz bastante divergente. Pure Comedy é a amálgama (quase) perfeita entre instrumentais orquestrais, puros e tocantes e letras de uma cadência poética fenomenal. Assim, o álbum é responsável pela criação de um clima introspetivo, de misantropia e de inquietação, onde o ouvinte mais erudito experienciará, certamente, um misto de alegria e angústia. Esta obra é a irónica dissecação da natureza humana através da música, constituindo, então, a meu ver, um dos álbuns essenciais de 2017 e uma obra-prima que, seja hoje ou séculos adiante, será ouvido e sentido com a mesma intensidade. - João
A nossa escolha:
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Saturation III |
Banda: Brockhampton
Data de lançamento: 15 de dezembro de 2017
A 'boy band' americana, Brockhampton, trouxe-nos, já perto do fim do ano,
Saturation III. Voltam com o seu trabalho aprimorado e lapidado, tanto
na parte das sucessivas performances enérgicas, como na criação de uma
maior harmonia e musicalidade nos refrões, principalmente. É um álbum,
de certa perspetiva, mais experimental, mais excitante e entusiasmante
do que os seus anteriores, conservando ainda a coesão extraordinária
entre este grupo de jovens e preenchendo a ausência de surpresa que se
sentiu na transição do primeiro para o segundo álbum da trilogia
Saturation. Os Brockhampton fecham assim a sua trilogia e o rap em 2017
com um álbum que transpira a confiança e o carisma característicos de um
grupo de jovens bem-sucedidos. - João
A nossa escolha:
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Sleep Well Beast |
Banda: The National
Data de lançamento: 8 de setembro de 2017
Sleep Well Beast era um dos álbuns mais esperados do ano, e os The
National não deixaram que ficasse aquém das expectativas de ninguém. Sleep Well
Beast trás-nos novas sonoridades que até então eram desconhecidas no percurso
da banda, onde solos de guitarra e sintetizadores nos são apresentados com
naturalidade. Deparamos-nos com uns The National mais descontraídos e
inovadores, abertos a novos sons e a olhar para o futuro, porém, sem virar
costas a nada do que foram no passado. Sem dúvida que os The National não têm
medo de arriscar, e Sleep Well Beast é a prova. Apesar das mudanças, a marca no
rock independente da banda de Ohio continua tão impressionante e fresca quanto
os clássicos anteriores. - Joana
A nossa escolha:
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Slowdive |
Banda: Slowdive
Data de lançamento: 5 de maio de 2017
Após 22 anos, as lendas do shoegaze voltam a reunir-se para fazer aquilo
que melhor sabem fazer e reproduzir um dos mais fortes álbuns de shoegaze da
actualidade. Não podíamos passar sem falar deste retorno triunfante que é para
os veteranos do shoegaze, mas para além disso, para a nova geração de fãs que
foram conquistando ao longo das décadas. Slowdive apresenta novas sonoridades,
no entanto sem deixar de soar familiar o suficiente para se encaixar
confortavelmente no resto da discografia da banda. Mas o impressionante sobre Slowdive é o facto de ser o trabalho de uma banda que se reformou e gravou por
escolha, com o seu próprio ritmo, trazendo a experiência acumulada de toda uma
vida adulta para suportar e superar a expectativas de um álbum de retorno
moderno e revigorante que cimenta seu talento e ressonância emocional. - Joana
A nossa escolha:
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The OOZ |
Artista: King Krule
Data de lançamento: 13 de outubro de 2017
Sem dúvida alguma, The OOZ foi até hoje o álbum mais rico e versátil de
King Krule. Um álbum que nos atinge, não com um género musical, mas um alvoroço
deles, de tal forma que tanto podemos estar a ouvir um álbum de trip-hop, como
um álbum de punk-rock, ou mesmo como um álbum de jazz, sempre com um pouco de R&B à mistura. E, apesar das suas 19 faixas nunca o ouvimos como um álbum extenso,
pois é um álbum que flúi tão bem que nos absorve completamente e nos faz
esquecer do tempo, quase como se fosse um portal para Nárnia. The OOZ é um
álbum cheio de ambiente, e que pela sua versatilidade e imersividade
rapidamente se ajusta a todos os bons ouvidos. - Joana
A nossa escolha:
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Turn Out the Lights |
Artista: Julien Baker
Data de lançamento: 27 de outubro de 2017
O que tenho a dizer sobre o Turn Out The
Lights resume-se a: é Humano. É um álbum, mas tem corpo e membros, mais do que
isso, tem coração. E por isso é que lhe é impossível ficar indiferente. E é
impossível não nos identificarmos quando a Julien Baker consegue, em 11 faixas,
concentrar tantos, e tão comuns, sentimentos humanos. Não me quero alongar com
este álbum porque é um álbum que atinge a todos, mas atinge todos de formas
diferentes. Não é um álbum que te vai dar respostas sobre o que sentes, mas de
certo vai servir como um reflexo de emoções. É um álbum bonito, mas duro. E que
tem tanto para nos ensinar. - Joana
A nossa escolha:
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Utopia |
Artista: Björk
Data de lançamento: 24 de novembro de 2017
Lançado em novembro, a mente por trás de Utopia não requer apresentações.
Neste álbum, Björk renasce, outra vez. Corresponde às expectativas de
ouvintes que esperavam a junção de música com alma, trazida do
Vulnicura, ao seu constante carácter inovador. É um álbum fácil de
ouvir, reflexivo e leve, onde é demonstrado o amor de Björk pela vida e o
seu espetáculo, pela natureza e pelo luxo. Contudo, a chave para a
percepção do álbum encontra-se na concepção de utopia segundo a artista:
uma ilha distante, habitada por mulheres e crianças, um sítio sensual
e, simultaneamente, sensível, desprovido da maioria dos valores da
sociedade atual.
Resumindo, Björk continua a surpreender pela sua capacidade de expressar
ideias complexas em música sem um excesso de ornamentos. É,
indubitavelmente, uma lufada de ar fresco que sentimos a entrar pelos
ouvidos ao ouvir Utopia. - João
A nossa escolha:
que snub em charli xcx, vocês deviam mesmo dar-lhe uma oportunidade! acho genial o seu pop experimental mas acessível. Ela lançou dois EPs este ano, mas que mais parecem LPs: Number 1 Angel e Pop 2. Recomendo tanto um como o outro. Gostava de ouvir as vossas opiniões!
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